Os caminhos da energia limpa em pauta no Inova Trade Show

Os caminhos da energia limpa em pauta no Inova Trade Show

O segundo dia do Road Show Tecnológico, atividade realizada durante a 9ª edição do Inova Trade Show,  teve início com a exposição de iniciativas ligadas à área de Energia. Para isso, reuniu pesquisas de soluções tecnológicas diretamente ligadas à sustentabilidade e à redução das emissões de CO2 no meio ambiente, com substituição de combustíveis fósseis. Ao todo, foram apresentadas 11 iniciativas ligadas de nove institutos de pesquisa e empresas.

O Road Show Tecnológico, realizado em parceria com a Alcance Innovation, teve como objetivo conectar instituições de ensino e pesquisa e empresas para levar ao mercado soluções inovadoras. A programação contou com uma agenda para apresentação de projetos nas área de energia, saúde e alimentos e um espaço disponibilizado para networking. Estima-se que o evento gerou mais de 100 conexões futuras. (leia mais aqui)

O Inova Trade Show foi realizado no Instituto Agronômico de Campinas (IAC) nos dias 3 e 4 de novembro, pela Fundação Fórum Campinas Inovadora (FFCi). Confira os projetos apresentados:

Instituto Hercílio Randon

O evento na área de energia foi aberto por Fábio Makita, diretor do Instituto Hercílio Randon de Ciência e Tecnologia, uma ICT ligada às empresas Randon, do Rio Grande do Sul. Ele ressaltou a sua missão de estruturar e pensar meios de inovação dentro do grupo. Uma ICT privada e sem fins lucrativos, ela promove parcerias com empresas, startups e outros institutos em suas pesquisas tecnológicas. Em um ano e meio, encaminhou mais de 50 patentes, sendo algumas globais.

Os principais desafios dos estudos em andamento têm relação com tecnologias que reduzem danos ambientais, como propulsão elétrica de veículos (reduzindo uso de combustível fóssil), materiais dotados de nanotecnologia, desenvolvimento de sensores, baterias elétricas com maior sobrevida para motores, peças com menor atrito e desgaste e dados embarcados on-line para a conferência de cargas, por exemplo.

“Estamos com 42 projetos neste ano, envolvendo universidades e empresas, e cerca de 120 pessoas trabalhando. Usamos a infraestrutura da Randon e parcerias para acelerar novas tecnologias de produtos. É um modelo que foi adotado para trazer agilidade e fazer essa interface, vocacionada para projetos de P&D (processo de pesquisa e desenvolvimento)”, afirmou.

CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais)

A analista em inovação do CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais), Aline Maria Pascon, apresentou tecnologias desenvolvidas no local e que levam inovação à área de energia. Ela reafirmou que, embora ligado a um projeto do governo federal, o CNPEM é uma organização social sem fins lucrativos e que atua por meio de contrato com o Ministério da Ciência e Tecnologia.

No local há quatro laboratórios referências mundiais e abertos à comunidade científica e empresarial, com ações de apoio à inovação, treinamento e extensão. São eles o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), responsável pelo acelerador de partículas Sirius; o Laboratório Nacional de Biociências (LNBio); o Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR)  e o Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano).

“Precisamos de parcerias e programas que apoiem essas áreas estratégicas de pesquisa. Associado ao CNPEM, temos uma divisão de engenharia para apoio a projetos de desenvolvimento de tecnologia, associado a um acelerador Sirius, o que é muito raro”, comenta. Entre as tecnologias desenvolvidas na instituição sobre energia estão um bambu que pode ser usado como condutor de energia rápido e sustentável e um coquetel enzimático nacional para produção mais barata e eficiente do etanol 2G.

MRO Logística

Lucas Alexandre, gerente de inovações e soluções digitais da MRO Logística, divulgou a proposta da empresa de promover eficiência em operações e custos das cadeias produtivas com soluções projetadas em dados digitais em Data Lake (um sistema repositório de informações sobre diversos segmentos). Nessa jornada digital, segundo ele, muitos clientes são da área de energia. A empresa busca parceiros para ampliar sua visão computacional e aprimorar as técnicas de Data Lake.

“O importante, porém, não é ter Data Lake, é saber trabalhar e agrupar esses dados. Hoje operamos com a cadeia de suplementos e queremos dar um novo passo, fazer isso de forma mais eficiente”, disse. Alexandre afirmou que o conjunto de dados disponibilizado aos usuários é analítico, com avaliação de atuação de um conjunto de empresas em todas as cadeias, evitando o olhar individualizado, na busca de redução de custos e novas soluções.

Entre as análises feitas estão: demanda de ativos; níveis considerados críticos de saída para rápida reposição, ou investimento em conservação no caso de pouca saída; previsão de falhas no processo da empresa, com avaliação histórica da cadeia em que atua; processamento de imagens para identificação de produtos, entre outros.

Cine

Pesquisador do Cine (Centro para inovação em novas energias) da Unicamp, Gustavo Doubek, expôs sobre a divisão de armazenamento avançado de energia do centro, que trabalha com institutos parceiros e empresas em projetos de energia sustentável – como ampliação da capacidade de armazenamento, inovação computacional de sistemas e novas células fotovoltaicas.

Nessa indústria, um dos maiores desafios atuais é ampliar a duração de baterias para armazenamento de eletricidade, ainda longe de dar a autonomia que um combustível líquido dá para um carro, por exemplo. Como alternativa, ressalta, o Cine trabalha no uso de biocombustível combinado com eletrificação, um sistema com ganhos ambientais e de autonomia. “O Brasil já produz etanol, então é importante usar e agregar uma tecnologia que já tem uma cadeia de valor no país, e que faz sentido para nossos produtores. Essa solução de usar etanol para gerar energia elétrica precisa de vários braços para se tornar realidade”, afirmou.

Ainda segundo ele, o Cine já tem reconhecimento, inclusive internacional, por viabilizar algumas patentes de dispositivos eletroquímicos para geração de energia com eficiência.

Também pelo Cine, o professor Hudson Zanin, da Divisão de Tecnologia de Armazenamento Avançado, informou que um espaço mapeado como de grande potencial para inovação na área de energia é o que trabalha com sistemas de alta potência (recarga rápida) não inflamáveis, para usos em aparelhos como os telefones celulares.

Zanin ressaltou ainda que, no atual período de transição para uma energia mais limpa, a eletrificação ganha importância e dependerá de baterias com alta capacidade de armazenamento de energia. “No Cine montamos protótipos, analisamos, e precisamos de parcerias e projetos de startups para levar isso adiante.” Segundo o pesquisador, até para construir uma bateria se emite CO2 no ambiente, às vezes mais que a emissão de um carro movido a etanol, portanto é importante a projeção de alternativas híbridas, com uso de hidrogênio, etanol e até água.

Escalab – UFMG e Senai-MG

Maria Duarte, gestora do Escalab (Centro de Escalonamento de Tecnologias e Modelagem de Negócios), com Mabel Alvarado, da Alcance Consulting

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Uma parceria entre a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e o Senai-MG viabilizou um laboratório para desenvolvimento, escalonamento e modelagem de novos negócios, batizado de Escalab (Centro de Escalonamento de Tecnologias e Modelagem de Negócios). Sua gestora geral, Maria Duarte, estudou química na UFMG e apresentou a experiência no Road Show de olho em levar mais parceiros, inclusive privados, para o laboratório, que atualmente tem a colaboração de 70 pesquisadores de todo o País.

Um dos novos focos do Escalab é a energia, pelo entendimento de que a área é uma forte “tendência de futuro”. “Temos plantas nessa área, uma delas de transformação de óleo de fritura em biodiesel. Estamos com uma metodologia muito bem definida e estou aqui em busca de conexões, acordos estratégicos para juntar esforços e fazer acontecer.”

O método aplicado para escalar negócios busca ampliar a velocidade de resultados, trabalhando primeiramente com um estudo técnico-econômico de viabilidade, mapeamento das tecnologias existentes na área do negócio proposto, um pré-projeto para dimensionar gastos e procedimentos e, por fim, a construção de uma planta para testar o produto em escala maior. Um programa de inovação do Escalab foi lançado com editais aberto em todo o País. Entre parcerias já feitas, uma foi a da pavimentação inteligente promovida com uso de rejeitos em Mariana-MG.

Reator Elvi

Mesmo não listado na programação oficial, Leonardo Magalhães, da startup Reator Elvi, pediu espaço para expor seus produtos e garantiu uma participação no Road Show Tecnológico. O mercado da empresa é o de vapor, usado no Brasil para mover pequenas caldeiras, por exemplo, em um sistema antigo e que pouco mudou desde o seu surgimento, usando tubulações, registrando demora no aquecimento, risco de explosões, manutenção complexa e muitas perdas ao longo do abastecimento.

Uma solução já apresentada pela empresa é de uma lavadora a vapor. A startup propõe ainda viabilizar reatores sob demanda com menor tempo de aquecimento e 60% de economia em gasto de energia, além da realização de estudos para elaborar um protótipo de bateria aeronáutica movida a motor.

“Já quero conversar com o Cine (da Unicamp) sobre baterias. Queremos ainda outras aplicações, no setor açucareiro, esterilização, máquinas de fumaça para eventos, entre outras inúmeras aplicações”, diz. A busca da Reator Elvi é por empresas parceiras para apoio em processos de validação de novos produtos.

Instituto Eldorado

A consultora de novos negócios Regiane Rezende representou no evento o Instituto Eldorado, que promove estudos em inovação tecnológica para diversos segmentos, entre eles energia, saúde e educação. Com sede em Campinas, possui filiais em Brasília, Porto Alegre e Manaus e é a primeira instituição sem fins lucrativos do Brasil ligada à Earto (Associação Europeia de Pesquisa e Tecnologia).

“Trabalhamos com a área de inovação aberta. Buscamos ingressar com expertise em diferentes oportunidades de negócios, seja inteligência artificial, cloud, laboratórios em hardware, software, além de capacitação, treinamento e consultoria em inovação. A parte de microeletrônica também dá bastantes oportunidades de desenvolvimento.”

Especificamente sobre energia, Regiane ressaltou o desenvolvimento de um sistema de identificação, com imagens de câmeras multiespectrais, predição de falhas de inspeção em torres de eletricidade.

Espaço Mescla PUC-Campinas

O Espaço Mescla, da PUC-Campinas, busca parcerias para pesquisas em aquecimento e refrigeração geotérmica. Um dos sistemas em estudo é o que inova a engenharia de troca de calor do ar-condicionado.

“A gente busca essa troca de calor com o solo, o que tornaria essa troca de temperatura mais constante, mais quente que a atmosfera no inverno e mais frio no verão, fazendo com que esse processo seja mais eficiente para o ar-condicionado “, explicou o engenheiro de controle e automação da Universidade Vinícius Simionatto.

Outras iniciativas desenvolvidas são simulações de sistemas dinâmicos, como de geração de energia eólica, por exemplo, monitorando o desempenho das estruturas necessárias às usinas; desenvolvimento de células de hidrogênio para fornecer energia a carros; maior eficiência de tração para componentes de veículos, entre outros.

Ainda pelo Mescla, a representante Betânia Luneli falou sobre estudos em energia alternativa, com valorização de resíduos orgânicos para a geração energética. “Só no Brasil acumulamos 379,2 kg de resíduos per capita e 45% são restos de alimentos. São dados que justificam a adoção maior de tecnologias waste-to-energy, para transformação desses resíduos”, defendeu.

Uma das opções possíveis, disse, é a transformação de materiais orgânicos em biogás, e integração da solução em várias cadeias produtivas, substituindo o diesel. “Avaliamos e caracterizamos diferentes resíduos domésticos e agropecuários, com adoção de várias combinações de reaproveitamento.” Betânia ressaltou que todos projetos desenvolvidos atendem os objetivos globais do desenvolvimento sustentável.

Campus Sustentável/Unicamp

Outro grande projeto apresentado no Road Show foi o Campus Sustentável da Unicamp, um projeto iniciado em 2017 em parceria com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e CPFL Paulista, considerado o maior “laboratório vivo” da América Latina de energia sustentável. Os pontos do programa foram exibidos por alunos e pelo consultor/colaborador da universidade Ubiratan Castellano.

Além dos testes e compilação de resultados sobre o uso da energia sustentável no campus – em grande parte, fotovoltaica -, o projeto já partiu para atender demandas externas, como o fornecimento de energia limpa para estruturas do serviço público ligadas ao governo do Estado de São Paulo. “Nossos projetos são sempre voltados para fora, a ideia é usar a universidade para levar experimentos à sociedade, por isso temos essa parceria com o Estado”, afirmou Ubiratan.

Só na Unicamp, foram economizados R$ 5 milhões na contratação de energia. Também já há parceria com o Ministério Público do Trabalho (MPT), levando crianças a conhecer o ambiente da Unicamp; e um projeto para levar células fotovoltaicas a comunidades indígenas, financiado pela Embaixada da França.

Sobre o Inova Trade Show

O Inova Trade Show foi realizado nos dias 3 e 4 de novembro, no Instituto Agronômico de Campinas, pela Fundação Fórum Campinas Inovadora (FFCi). O objetivo é promover oportunidades de negócios e networking, apresentar o potencial tecnológico e as novas tendências para o ecossistema de inovação e empreendedorismo de todo o país.

Tem como parceiros: Unicamp, Agência de Inovação Inova Unicamp, PUC-Campinas, Mescla PUC-Campinas, Conexão.f da Fundepag, Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Tecnologia e Inovação de Campinas, Fundag, CATI, Apta, Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Eldorado, Alcance Innovation Consulting, Vilage Marcas e Patentes, Velis, Coalizão pelo Impacto e Campinas Tech. Tem apoio de Ciesp Campinas, Cepetro, Softex, Associação Comercial e Industrial de Campinas (ACIC), Share People Hub, Sebrae, Anbiotec Brasil, CPQD, Open Innovation Brasil, PDI Soluções Empresariais, Band e Campinas.com.

SOBRE A FUNDAÇÃO FÓRUM CAMPINAS INOVADORA

A Fundação Fórum Campinas inovadora (FFCi) é uma entidade que reúne todas as Instituições de Ciência e Tecnologia de maior relevância da região de Campinas, além das principais associações empresariais e órgãos governamentais, que têm atuação ou influência direta no ecossistema de inovação da região. A FFCi tem como principal objetivo promover e ampliar a utilização da Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I), visando contribuir para um significativo aumento da competitividade e o fortalecimento do desenvolvimento socioeconômico regional e nacional.

Texto: Claudio Liza

Fotos: Pedro Amatuzzi

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