Interdependência, Ciência, Tecnologis e Inovação e a Região de Campinas

A importância da Ciência, da Tecnologia e da Inovação na construção do cotidiano da vida coletiva

Uma história emocionante, que reúne conhecimento, desafios e orgulho por conquistas que muitos achavam ser meros sonhos.


O Fórum de Inovação e Sustentabilidade Campinas – FISC surge no início dos anos 2000 com o propósito de estimular a interação e a interdependência entre as Instituições de Pesquisa Científica e Tecnológica bastante renomadas da região, aos moldes de um verdadeiro ecossistema, cuja matéria prima é o trinômio Ciência–Tecnologia–Inovação e, assim, atender mais efetivamente as demandas da sociedade.

Entre outras definições, podemos entender ciência como uma atividade humana de busca de respostas, com o objetivo de se melhorar as condições de vida das populações em diversos segmentos e aspectos como alimentação, saúde, educação, cultura, saneamento, trabalho decente, habitação, arte, lazer e redução das desigualdades. Diversos e entrelaçados, tais temas contribuem para tecer a teia do processo de se fazer ciência, que é complexo e interdisciplinar, envolve vários campos do conhecimento e conta com a participação de muitas pessoas de diversas áreas e profissões. Principalmente a partir do século XIX, a ciência passou a ganhar relevância devido ao processo de industrialização iniciado na Inglaterra, tendo como carro-chefe o sucesso da introdução da máquina a vapor nos processos de industrialização em geral; e com destaque para a Alemanha, pela prioridade dada no país à educação técnica e científica.

No Brasil, à mesma época, passos importantes para o avanço da Ciência e da Tecnologia foram dados com a criação de Instituições relevantes como o Museu Nacional em 1818, primeiro Instituto de Pesquisa criado no país, e do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, em 1838. Campinas se destacava já a partir da obra de Hercule Florence, inventor francês de um dos primeiros métodos de fotografia no mundo e radicado na cidade. No ano de 1833, Florence fixou uma imagem por meio de uma câmera, seis anos antes da invenção dos daguerreótipos em 1839. Ainda durante o Império, impulsionados por Dom Pedro II eventos relacionados ao avanço da ciência se sucederam, caso da instalação, em 1887, da Imperial Estação Agronômica de Campinas, hoje denominada Instituto Agronômico de Campinas, o IAC.

Fotografia de conjunto de rótulos para frascos farmacêuticos por Hercule Florence em 1833. Crédito: Acervo Instituto Moreira Salles – São Paulo
Fotografia de conjunto de rótulos para frascos farmacêuticos por Hercule Florence em 1833.
Crédito: Acervo Instituto Moreira Salles – São Paulo

Com a República, o Brasil se empenhou para organizar uma infraestrutura aos moldes da Segunda Revolução Industrial. Surgem os grandes conglomerados de empresas como a General Eletric (1892), a Shell (1907), a General Motors (1908) e a população passou a ter acesso a produtos industrializados em grande escala. Vale ressaltar o papel dos trabalhadores imigrantes advindos principalmente de países europeus e do Oriente após o final da escravatura, e que aportaram singularidade à população do país, pela intensa miscigenação de raças e mescla de valores e costumes. A iniciativa privada teve sempre relevância na institucionalização da ciência brasileira, em especial pela atuação das Universidades confessionais e com base na filantropia; mas, o papel do Estado foi fundamental para o seu desenvolvimento no século XX. No ano de 1934 foi criada a Universidade de São Paulo–USP e, em 1948, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência-SBPC, mais dois passos importantes. A destinação de pelo menos 0,5% da arrecadação estadual para o amparo à pesquisa, instrumento previsto na Constituição do Estado de São Paulo de 1947, institucionalizou e deu início à profissionalização da ciência no Estado.

Finda a Segunda Guerra Mundial, intensifica-se no mundo a importância da Ciência e da Tecnologia diante do ambiente internacional competitivo que se iniciava, e a década de 1950 é considerada a “década de ouro” nesse campo. No Brasil, dentre os acontecimentos mais importantes, tem-se a criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq, e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior-CAPES, ambos em 1951. Na década de 1960, ressalta-se a criação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo–FAPESP e da Universidade Estadual de Campinas–UNICAMP. Notabilizam-se no cenário nacional vários cientistas, como o físico César Lattes, professor e pesquisador do Instituto de Física Gleb Wataghin/UNICAMP; também o célebre geógrafo Milton Santos, criador do conceito do meio técnico-científico-informacional, um meio geográfico onde o território inclui obrigatoriamente ciência, tecnologia e informação; e Johanna Döbereiner, cientista que estudou a fundo o uso de bactérias para fixação de nitrogênio, introduzindo uma forma sustentável de trabalhar a agricultura e maximizando a produtividade no campo.

Cesar Lattes com microscopistas de seu laboratório no Instituto de Física na Unicamp em 1971. Crédito: Fundo Cesar Lattes" do Acervo Histórico do Arquivo Central/SIARQ-Unicamp
Cesar Lattes com microscopistas de seu laboratório no Instituto de Física na Unicamp em 1971.
Crédito: Fundo Cesar Lattes” do Acervo Histórico do Arquivo Central/SIARQ-Unicamp

Diversos Institutos e empresas de pesquisa científica e tecnológica surgiram igualmente nesse período, caso da Empresa Brasileira de Aeronáutica-EMBRAER em 1969, com as atividades iniciadas em 1970. No ano de 1973, outro passo importante é dado com a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária-EMBRAPA, hoje a maior empresa de pesquisa tropical do mundo, com representação em quase todos os Estados brasileiros, mais de 40 unidades, célebre por antecipar o conceito da cadeia produtiva do agronegócio e por seu investimento em ciência, tecnologia e inovação, que tornou o Brasil um dos maiores exportadores de grãos do mundo.

Os anos 1980 aportaram mais avanços relevantes no campo científico e tecnológico, nacional e regionalmente. Com o advento da Nova República, em 1985, tem-se a criação do Ministério da Ciência e Tecnologia, atual Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Em 1989, através da Constituinte Estadual, os pesquisadores paulistas conseguiram aumentar a dotação da FAPESP para 1% da arrecadação do Estado. Já a década de 1990, marcada pela globalização da economia, revelou um cenário de dificuldades para a ciência brasileira, com vários desafios, inclusive a falta de investimento governamental. Momento importante para o setor foi a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a ECO 92, realizada no Rio de Janeiro, quando 175 países dos cinco continentes acordaram que era preciso avançar nas pesquisas científicas e se definirem medidas para enfrentar as mudanças climáticas, principalmente os danos do efeito estufa, protegendo a biodiversidade e promovendo o uso sustentável dos recursos naturais. A Carta da Terra, documento proposto pelas delegações presentes, definiu como temas principais: direitos humanos, democracia, diversidade, desenvolvimento econômico e sustentável, erradicação da pobreza e paz mundial.

O século XXI, já de início, apresentou oportunidades e marcos para o avanço da pesquisa científica no Brasil, como o aumento considerável do número de jovens no ensino superior e a promulgação da primeira Lei de Inovação Brasileira – Lei Federal nº 10.973/2004 – e hoje 22 Estados já contam com leis próprias sobre o assunto. Em Campinas, inaugura-se o acelerador de partículas Sirius, considerado como um dos mais importantes projetos brasileiros no campo científico e tecnológico de todos os tempos. O engenheiro e cientista Ricardo Rodrigues iniciou os estudos com sua equipe ainda em 1985, pesquisando projeto semelhante na Universidade de Stanford, na Califórnia. Disso, resultou o UVX, primeiro acelerador de partículas de 2ª geração do Hemisfério Sul, nas instalações do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron–LNLS em Campinas, em 1997. Nos anos seguintes, o LNLS se empenhou em construir um acelerador de partículas de 4ª geração – o Sirius. Em novembro de 2019, aconteceu a primeira volta dos elétrons no anel de armazenamento do Sirius, conduzindo o Brasil para a fronteira do conhecimento sobre o assunto em âmbito mundial.

O acelerador de partículas Sirius em Campinas: o projeto mais complexo da ciência brasileira. Crédito: CNPEM.
O acelerador de partículas Sirius em Campinas: o projeto mais complexo da ciência brasileira.
Crédito: CNPEM.

A importância do trinômio Ciência–Tecnologia–Inovação e seu papel no futuro do país podem ser avaliados nas palavras de Helena Bonciani Nader, Doutora em Ciências Biológicas e primeira mulher eleita para a Presidência da Academia Brasileira de Ciências em 2022, desde a criação da entidade em 1916, em seu Discurso de Abertura “Ciência Básica para o Desenvolvimento Sustentável” na Reunião Magna de 2023, realizada no Museu do Amanhã do Rio de Janeiro: “O Brasil precisa de ciência e de futuro. Os cientistas seguem produzindo conhecimento e agora mais do que nunca é imperativo usar esse saber para resolver os inúmeros problemas que se apresentam na sociedade brasileira, e assim abrir caminho para o desenvolvimento sustentável. Temos que ser, nós do presente, a inspiração para as gerações futuras”.

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